Complexo Penitenciário Carandiru Santana

Complexo Penitenciário do Carandiru Santana, que se notabilizou por sua superlotação, má administração e pelos massacres violentos que ali ocorreram, foi – por ocasião de sua inauguração – considerado um presídio-modelo, tendo sido projetado para atender às novas exigências do Código Penal republicano de 1890, de acordo com as melhores recomendações do Direito Positivo da época.

O projeto do presídio que venceu a licitação foi inspirado no Centre pénitentiaire de Fresnes, na França, no modelo “espinha de peixe” e recebeu o título de “Laboravi Fidenter”.

Complexo Penitenciário Carandiru Santana

Foi elaborado pelo engenheiro-arquiteto Samuel das Neves, tendo, no decorrer de sua execução, sofrido algumas adequações feitas por Ramos de Azevedo, razão pela qual esse último costuma ser citado, incorretamente, como sendo seu autor.

A construção dos dois pavilhões originais do Complexo Penitenciário do Carandiru ficou a cargo do Escritório Técnico Ramos de Azevedo, e foi executada segundo as mais modernas técnicas existentes na época, utilizando os melhores materiais, a maioria deles importados.

O custo da obra, inicialmente orçado em cerca de sete mil contos de réis, atingiu cerca de catorze mil contos de réis. Para se ter uma idéia do que significavam esses valores, na época, uma cadeia comum podia ser construída por mil contos de réis.

Complexo Penitenciário Carandiru Santana História

Por duas décadas, de 1.920 a 1.940 – ano em que atingiu sua capacidade projetada máxima de 1.200 detentos – o Complexo Penitenciário do Carandiru, então chamado Instituto de Regeneração, foi considerado um padrão de excelência nas Américas, atraindo a visita de inúmeros políticos, estudantes de direito, autoridades jurídicas italianas e até mesmo personalidades como Claude Lévi-Strauss, que vinham a São Paulo para visitá-la.

Em 1.936 Stefan Zweig – amigo de Sigmund Freud – escreveu em seu livro Encontros com homens livros e países “que a limpeza e a higiene exemplares faziam com que o Complexo Penitenciário do Carandiru se transformasse em uma fábrica de trabalho. Eram os presos que faziam o pão, preparavam os medicamentos, prestavam os serviços na clínica e no hospital, plantavam legumes, lavavam a roupa, faziam pinturas e desenhos e tinham aulas.”

O Complexo Penitenciário do Carandiru era aberta à visitação pública e chegou a ser considerada um dos cartões postais da cidade de São Paulo. É somente a partir de 1.940 – quando o Complexo Penitenciário do Carandiru excedeu sua lotação máxima – que ela começa a passar por sucessivas crises.

Numa das várias tentativas de resolver esses problemas de superlotação foi construída a Casa de Detenção, concluída em 1.956 no governo de Jânio Quadros, que elevou sua capacidade para 3.250 detentos, mas que – ao mesmo tempo – era um anexo cuja arquitetura não se adequava totalmente ao projeto original do Complexo Penitenciário do Carandiru, embora fosse adequado aos padrões da época.

Desde então a história do Complexo Penitenciário do Carandiru passa a ser não mais acabar de crises e rebeliões, que culminam com os famosos massacres de 1.992, quando ali as autoridades penitenciárias amontoavam, em péssimas condições, cerca de oito mil detentos.

Um dos fatos mais conhecidos da história do presídio ocorreu em 1992, quando 111 detentos foram mortos pela Polícia Militar de São Paulo durante uma rebelião, os quais resistiram às investidas policiais. Esse fato teve grande repercussão nacional e internacional. A canção “Diário de um detento”, do grupo de rap Racionais MC’s, versa a respeito do que ficou conhecido como “o massacre do Carandiru”. Segundo muitos presos, o número oficial está abaixo da realidade, já que se afirma que pelo menos 250 detentos foram mortos na invasão.

Em 1998 foi criado o grupo Detentos do Rap no interior do Complexo Penitenciário do Carandiru. O grupo gravou dois álbuns dentro do presídio, obtendo uma vendagem alta de cópias para o mercado brasileiro de rap.

Complexo Penitenciário Carandiru Santana Desativação

Em 2002, iniciou-se o processo de desativação do Complexo Penitenciário do Carandiru, com a transferência de presos para outras unidades. Hoje o Complexo Penitenciário do Carandiru já se encontra totalmente desativado, com alguns de seus prédios já demolidos e outros que foram mantidos, para serem posteriormente reaproveitados.

O governo do estado de São Paulo construiu um grande parque no local, o Parque da Juventude, além de instituições educacionais e de cultura.





Complexo Penitenciário Carandiru Santana Pavilhões

Apesar do desenho dos pavilhões serem muito similares, os mesmos possuíam diferenças em relação à população que os habitava, cada um com suas peculiaridades.

  • Pavilhão 2: Lugar para onde iam os detentos recém chegados à casa de detenção. Primeiramente havia uma passagem por esse pavilhão, para que os detentos fossem registrados, fotografados, recebessem corte de cabelo característico, calça bege (única cor permitida) e encaminhados para outros pavilhões. Nesse pavilhão os detentos recebiam a palestra inicial onde eram introduzidos às primeiras regras da detenção.
  • Pavilhão 4: O mais “desejado” entre os novos presos por não ser tão populoso, e contar com celas individuais. Esse pavilhão foi criado com a intenção de ser uma área médica e apesar de nunca tê-lo sido de forma exclusiva, acabou por manter essa característica. No térreo ficavam os presos tuberculosos, no segundo andar, os doentes mentais ou aqueles que fingiam sê-lo e no quinto, a enfermaria. No térreo desse pavilhão existiu uma ala conhecida como masmorra ou amarelo. Celas apertadas, úmidas e escuras onde ficavam detentos jurados de morte por outros presos e que não podiam ser transferidos para outros pavilhões.
  • Pavilhão 5: O mais populoso dos pavilhões, também considerado o mais humilde de todos, sendo seus habitantes olhados com certo desdém pelos detentos de outros pavilhões. No primeiro andar, ficavam as celas de castigo. Semelhantes às masmorras, trancafiavam por cerca de trinta dias infratores internos (porte de drogas, armas, desacato etc.). No terceiro andar eram alojados estupradores, justiceiros (matadores “profissionais” de ladrões) e aqueles que foram expulsos de outros pavilhões. O quarto andar, possuía perfil similar ao terceiro, porém com presença de muitas travestis. O quinto andar, foi conhecido como amarelo, e abrigou de forma precária muitos presos jurados de morte. Esses presos, por estarem ameaçados não tinham banho de sol, e ficavam acuados em suas celas. Por isso tinham a aparência amarelada, o que deu o apelido do setor. Devido a todos esses fatores, tal pavilhão foi sempre considerado o mais complexo e perigoso dos pavilhões.
  • Pavilhão 6: Era onde ficava a cozinha, já há muitos anos desativada. Um antigo cinema (destruído em rebelião) transformado em um grande auditório no segundo andar. Salas de administração no segundo e terceiro. Celas no quarto e quinto, sendo que este último andar ainda possuía uma área destinada a abrigar presos com o mesmo perfil que o amarelo, devido à superpopulação no pavilhão 5.
  • Pavilhão 7: Foi considerado de todos o mais calmo, chegando a permanecer dois ou três anos sem mortes. Criado com o intuito de ser um pavilhão de trabalho, o sete permaneceu habitado por detentos com ocupações laboriosas, como confecção de bolas, pipas, barcos e outras atividades. Este também era o preferido por aqueles que pretendiam fazer escavações e tentar a fuga, por ser o mais perto das muralhas.
  • Pavilhão 8: Provavelmente o lugar onde moravam os presos mais respeitados, por serem reincidentes no crime, conheciam muito bem as regras prisionais e sabiam como se comportar neste ambiente. Nem por isso deixava de ser tenso e violento. Junto a este, ficava o campo de futebol que era o maior, dentro da Casa.
  • Pavilhão 9: Ficou famoso fora da Casa de Detenção, pois uma torcida organizada do Sport Club Corinthians Paulista com o mesmo nome (Pavilhão 9) foi formada por detentos que abrigavam o nono pavilhão. Seus habitantes eram réus primários, o que acabava muitas vezes por gerar conflitos, já que os mesmos eram impetuosos e ainda sem a assimilação completa das regras a serem seguidas. Além da Torcida Pavilhão 9 do Corinthians, foi formada uma banda de Rap com mesmo nome do Pavilhão da Casa de Detenção de São Paulo (O Carandiru) conhecida também por Pavilhão 9. A banda foi um dos principais nomes do rap brasileiro nos anos 1990, com discos importantes do gênero como Procurados Vivos ou Mortos e Se Deus Vier, Que Venha Armado.

Endereço Complexo Penitenciário Carandiru em Santana

  • Av. Cruzeiro do Sul, 2418 – Canindé – São Paulo – SP

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